Um soco no estômago, um tapa na cara, um tiro na consciência de cada um que assiste ao filme ainda em cartaz. Não sei se foi essa a intenção de Meirelles ao trazer para nós, através das telas de cinema, a realidade da África que virou laboratório de testes para fabricantes de remédio de diversas partes do mundo. Se não era, ficou sendo.
Acho que é quase impossível sair da sala de cinema sem se sentir tocado de alguma forma com o filme. Eu, a bem da verdade, saí sem palavras. Não há o que dizer sobre esse assunto. Todos sabemos que qualquer remédio, antes de chegar ao mercado, precisa passar por testes, não só com ratinhos de laboratório. É imprescindível testá-los em cobaias humanas.
É uma realidade que sabemos existir, mas preferimos fingir que não existe. É uma situação que incomoda, pois são muitas as vidas tiradas, sem dó nem piedade. Tudo em nome do bem da ciência. Não será esse um preço alto demais a ser pago? Não seria melhor simplesmente voltar ao laboratório para redesenhar a fórmula do medicamento aos primeiros efeitos colaterais que surgissem? Isso leva tempo, sim. Gasta dinheiro, sem dúvida. Além de atrasar a entrada do medicamento no mercado e abrir espaço para que os concorrentes formulem um remédio semelhante antes.
Mas será que vale mesmo a pena pagar com tantas vidas o preço de um mercado. Não quero discutir aqui o bem ou mal dos medicamentos desenvolvidos até hoje, e que já salvaram ou melhoraram a qualidade de inúmeras vidas. A questão é o método dos testes. Erros levados adiante, em nome da primazia num mercado sedento de novas soluções médicas.
Meirelles tocou num ponto delicadíssimo. É uma discussão que, se levada a cabo, dá muito pano pra manga. Para nós, meros mortais, fica a reflexão. Para nós, futuros jornalistas, e para os atuais jornalistas, fica o desafio da denúncia, uma tentativa de construir um mundo mais justo e humano.
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