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04 agosto 2008

Para combater milícias, primeiro a sociedade tem que deixar de ser hipócrita, diz secretário

A matéria não é de hoje, mas vale a pena sempre ser reproduzida. É minha, publicada na Agência Brasil na quarta-feira passada, dia 30.

Em entrevista com o secretário Nacional de Segurança Pública, confesso que virei fã do cara. Pelo menos em princípio. Há tempos não ouvia alguém do governo ser tão incisivo contra a hipocrisia da sociedade, que vê de um jeitinho bem fácil os problemas dos outros, mas não consegue perceber a sua culpa nesses problemas.

Sem mais comentários, prefiro deixar o secretário falar...


A primeira coisa que tem que ser feita no combate às milícias, como as existentes no Rio de Janeiro, é acabar com a hipocrisia das classes mais altas da sociedade brasileira, que condenam a violência somente quando se sentem ameaçadas por ela, disse hoje (30) o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri. Segundo ele, muitos segmerntos sociais apóiam o surgimento dessas organizações, ao criminalizar a pobreza.

“Temos que ser muito francos e contradizer toda hipocrisia social, que neste momento condena as milícias, mas se voltarmos um pouco atrás, veremos que no surgimento elas [milícias] foram aplaudidas. Os justiceiros que vinham para resolver problemas de segurança pública também foram aplaudidas, da mesma forma como todos os grupos de extermínio inicialmente são aplaudidos pelas classes formadoras de opinião”, afirmou ele, em entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Um exemplo que ele trouxe em relação ao comportamento das classes formadoras de opinião no Brasil foi o da morte do garoto de três anos dentro de um carro, no Rio de Janeiro, no início deste mês. “Se, em vez daquela criança, tivéssemos três jovens - homens, pobres, negros, honestos e trabalhadores - provavelmente eles seriam uma estatística a mais e a sociedade inteira aplaudiria dizendo 'menos três bandidos mortos'”.

Balestreri destacou que é moralmente corrompido um grupo que surge se dizendo justiceiro, com o objetivo de exterminar criminosos. De acordo com o secretário, se criminosos decidem sobre a vida e a morte das pessoas de uma comunidade, é natural que eles se achem no direito de tirar dinheiro dessas pessoas.

“Quem é encarregado de tratar o fenômeno da segurança pública são as instituições de Segurança Pública. Quem quer que se apresente para fazer isso em nome da população é bandido, com certeza. Não há nenhuma diferença entre os narcotraficantes e as milícias e esse é o primeiro grande passo: perceber que não há diferença”, disse.

Além de educar a população para não reagir de forma emocional aos problemas de segurança - “para [as pessoas] serem mais racionais na análise que fazem” -, o secretário acrescentou a necessidade de educar também a polícia para que saiba combater esses grupos ainda no seu surgimento.

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