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04 junho 2010

Olhando para o futuro

E o que se pode fazer para para sair desse buraco? “Eu não sei o que falta. Quem sabe falte um pouco de garra, de 'eu vou fazer' e não ' vou esperar que alguém faça por mim', que é um sentimento também do haitiano, 'o governo resolverá ou alguém resolverá por mim'", acredita a embaixatriz Roseana Kipman.

Alguns militares brasileiros vêem a necessidade de uma ação governamental, que aproveite o ambiente de segurança para iniciar um processo de desenvolvimento sustentado. “Eu acho que tem que haver uma pressão das associações de direitos humanos junto ao governo haitiano, junto à própria ONU, no sentido de esse sofrimento, essa miséria do povo ser atenuada", afirma o comandante do batalhão brasileiro, coronel Fioravante.

Ok, ação governamental. Mas o que, de forma concreta, é necessário no curto prazo? Quem responde primeiro é o intérprete do batalhão brasileiro, Jean Denis (o mesmo que quer ir estudar no Brasil). “Pra ser um país que não sofre, é emprego pra população, porque quando todo mundo está trabalhando, não vai ter problema econômico e ninguém vai se preocupar com outras coisas [que, de acordo com ele, seriam fazer baderna, enfrentar as tropas estrangeiras...]".

Para ele, é o desemprego, que atinge cerca de 80% da população, que faz o povo sofrer. "A segunda coisa: escola, formação da população; pra população falta formação, escola pras crianças, jovem que está querendo estudar, mas não tem possibilidade”, completa.

"Jobs, jobs, jobs!", como diz o brasileiro Luiz Carlos da Costa, um dos "chefões" da Minustah. É o que iniciativas como a fábrica de rum Barbancourt (a única que conseguimos visitar) geram. Na empresa, existente desde 1862, são empregadas 300 pessoas, desde o corte e moagem da cana até o envase e exportação do produto final, que vai para 15 países, principalmente europeus. O menor salário pago, de acordo com Jean Dominic Denis, funcionário da fábrica, é de US$ 3 por dia.

“Esse rum é uma honra nacional, porque na época do embargo [imposto pelos Estados Unidos] não tinha nada funcionando, só a Barbancourt funcionava para ajudar o país”, diz Denis. Por dia, a Barbancourt produz 1,6 mil caixas com 12 garrafas grandes (aproximadamente 700 ml) e 1,3 mil caixas com 24 garradas pequenas.

Voltando à geração de empregos, o embaixador brasileiro, Igor Kipman, diz que o governo haitiano tem trabalhado nisso, mas "devagarinho". “As coisas aqui acontecem num ritmo muito próprio do Haiti, devagar, não acontecem muito rapidamente. Está acontecendo devagarinho, com os tropeços a que este país está sujeito". Tropeços geográficos - os furacões - e as dificuldades enfrentadas por uma democracia que renasce - foram quatro meses desde abril sem um primeiro-ministro.

"[O país] ficou praticamente metade do ano de 2008 com um governo encarregado dos assuntos correntes, um governo que não pode assumir compromissos a médio prazo, claro que isso atrasa todo esse processo [de desenvolvimento]”.

Para o médio prazo, existe um plano feito pelo governo que caiu em abril junto com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que prevê, em três anos, geração de emprego e aumento de renda. O embaixador Kipman lembra que estava marcada uma reunião, no início do ano, com doadores internacionais, para definir os recursos necessários ao plano. Só que ela foi desmarcada tanto por conta dos problemas políticos quanto pelos climáticos.

A esperança dele é que essa reunião seja feita em novembro, “e aí então vai se dar início ao plano que deveria ter começado no início de 2008, vai acabar começando em 2009”.

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