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24 abril 2005

"Como nossos pais"

Juventude é assim mesmo. Temos dentro de nós um poder incrível, por meio do qual nos vemos onipotentes. Queremos mudar tudo ao nosso redor, tomar as rédeas do destino, o nosso, o dos outros, o do mundo.

Não estamos de todo errados, mas o tempo passa. O tempo passa, crescemos e vemos que muita coisa não passa de utopia. Isso não quer dizer que nossos objetivos e sonhos não eram verdadeiros. De fato acreditávamos, tínhamos certeza de que era possível. O impossível era algo que não existia.

Faz tempo que ouço isso da geração anterior à minha, a geração de meus pais. Essa era uma geração repleta de sonhos e ideais. Mas não eram algo que ficava só no campo da imaginação; pelo contrário, lutavam por tudo aquilo que queriam. Não importava se a luta os levava a enfrentar de frente, de peito aberto autoridades, força policial ou o que quer que fosse. Simplesmente corriam atrás.

Só que eles cresceram. Da mesma forma como nós agora também estamos crescendo. Amadureceram, tomaram outros rumos na vida. Seus sonhos de um mundo melhor, mais justo, igualitário, responsável etc etc etc, esses ficaram para trás. Talvez não tenham se perdido completamente, apenas estão guardados, esperando o momento certo de serem novamente buscados.

Mas não são mais nossos pais os responsáveis por essa busca. Quando paro para observar a minha geração, vejo que somos iguais. Talvez não vivamos mais num contexto de luta por democracia política. Essa, ao menos na teoria, já temos. Nossas lutas agora são outras. Queremos justiça social, desenvolvimento sustentável, respeito às diferenças. Trabalhamos para que nossos colegas (e nós mesmos) não sejam politicamente alienados (semelhanças, nesse caso, não são mera coincidência).

Entretanto, ainda que as lutas, pontualmente, não sejam exatamente as mesmas, o sonho permanece o mesmo: um mundo melhor, um futuro melhor para nós e nossos filhos, um mundo mais justo, onde todos possam ser deveras livres, felizes, possam viver da maneira como bem entenderem, desde que não prejudiquem seu próximo.

Não importa os meios que nós utilizamos: movimento estudantil, politicamente engajado ou não, trabalho voluntário, atividades pelo bem-estar social, ou qualquer outro meio. Estamos seguindo os mesmos passos daqueles que nos precederam, pois também acreditamos que podemos mudar o mundo, construir uma realidade melhor.

Só espero que, ao contrário do que aconteceu com muitos, não percamos esses sonhos, não desistamos de nossos objetivos. Manter esse espírito “revolucionário” é essencial, pis ele é inato à juventude. E nada melhor do que a essência do espírito jovem para que possamos nos manter eternamente jovens. Jovens de espírito, mas com a experiência de pessoas maduras. Ora, é por isso que aprendemos, vivemos, erramos e acertamos. De nada adianta tudo por que passamos se não retemos nada, apenas deixamos passar.

Deus queira que, no final das contas, não digamos como nossos pais: nós queríamos, e sonhávamos que podíamos, mudar o mundo. Nós podemos, só precisamos perseverar.

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