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04 maio 2005

Independência ou Morte!

Ora, lembro-me muito bem. Meu amantíssimo esposo, Pedro, via em José Bonifácio um homem de confiança. Àquela época, meu querido era Príncipe Regente do Brasil, ainda subordinado à Corte Portuguesa. José e seu irmão, Antônio Carlos de Andrada e Silva, bem como o visconde da Cairu, José da Silva Lisboa, não largavam do pé de Pedro. Queriam que ele tomasse alguma providência, rompesse com seu pai e lutasse pela independência política desse país, que, de grande, só tinha o território.
Ai, que saudade da Corte! Lisboa, como eu queria poder ver-te novamente! Mas não podia. Pedro parecia fascinado. Sem falar que os jornais só falavam disso: Brasil independente. Ai, que idéia mais absurda! Só podiam ser loucos, como Joaquim Gonçalves Ledo e Januário da Cunha Barbosa.
Parece que foi ontem! Primeiro, meu Pedrinho recusou fidelidade à Constituição Portuguesa. Depois, convocou uma Assembléia Constituinte para o Brasil! Como pôde, meu Deus? Como se não bastasse, declarou inimigas as tropas portuguesas... Pedro estava fora de si, eu garanto! Foi tudo culpa do José. Ele queria o poder para si, e somente usou o meu Pedro.
Só que o pior ainda estava por vir... Maldita a hora em que EU sugeri a Pedro que fosse até São Paulo. Queria que ficasse um pouco distante desses loucos os quais enchiam sua pobre cabecinha com absurdos. Mas não adiantou. Tenho certeza, todas as exigências que, supostamente, foram feitas pelos portugueses eram falsas. Isso só pode ter sido idéia do José. E não é que foram atrás do Pedrinho para lhe entregar a tal carta? Ele ficou sem saber o que fazer.
Estava às margens do Ipiranga. Simplesmente gritou: “Independência, ou morte!”. Tolinho demais esse meu marido... Como eu queria ter estado lá ao seu lado para impedir tal sandice! Mas não estava. Foram os piores anos de minha vida! Deu o maior banzé! Só sei que minha filhinha acabou sendo enviada como regente a Portugal, depois que meu sogro, D. João, faleceu. Meu cunhado tentou usurpar o trono. Pedro e eu acabamos indo de volta a Lisboa. Conseguimos arrumar a situação. Aí, sim, foi bom. Voltei a viver como uma rainha, de fato e de direito, como sempre tinha sonhado.
Pedrinho II, pequeno que era, ficou por aqui, sob a tutela do José Bonifácio. Nunca mais o vi. Só soube que assumiu o trono logo, e governou durante muito tempo. Só saiu por causa daqueles republicanos. Outros doidos. Mas disso eu não posso falar, não conheço os detalhes. Agora, da sandice de Pedro, por causa dos loucos brasileiros, disso eu não esqueço nunca! Quase acabaram com minha vida de luxo e festas. Imagina só: eu, uma princesa linda, vivendo nesse calor eternamente? Com pouquíssimo luxo e em meio a milhares de rebeliões? Nem morta! Eu sou chique, benhê!

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