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11 agosto 2008

Projetos, caminhos e afins

Em geral, quando optamos por participar de um projeto, é porque acreditamos nele. Confiamos na forma como está sendo conduzido, ainda que reconheçamos e aceitemos o fato de que ainda há falhas. Quiçá, muitas falhas.

No entanto, apesar de todos os defeitos, percebemos que o caminho, a linha-mestra, está, na essência, no rumo certo. E há pessoas, em todos os níveis da administração dessa idéia, trabalhando para acertar mais.

Só que às vezes, é preciso mudar algumas peças no time. Os novos atores, em geral, vêm para acrescentar novas conquistas, azeitar algumas juntas que estavam rangendo e corrigir alguns defeitos decorrentes do mau uso da engrenagem.

O problema é quando a linha-mestra, que estava no sentido certo, vai aos poucos sendo relativizada e desviada. Ou ao menos corre o risco de o ser.

Aos que ficaram, a primeira opção é tentar recolocar o trem na linha, ainda que sejam necessários certos desgastes no aparar das arestas. Mas pode chegar uma hora em que já não dá mais.

E aí, como saber se esse momento chegou? Para os mais experientes pode ser fácil. Pode ser simples, inclusive, achar que é melhor não fazer nada, simplesmente esperar a "hora certa" passar. Sugiro, e peço para mim mesma, paciência.

"Deus me dê paciência para aceitar aquilo que não posso mudar; coragem para mudar o que posso; e sabedoria para enxergar a diferença", eu li em algum lugar. O pedido continua no ar. A resposta com certeza vem.

08 agosto 2008

Patriotismo universal

A cada quatro anos todos os povos do mundo (ou quase todos - esse tipo de generalização pode sempre ser por demais perigosa) se voltam para um ponto do globo. Este ano é a China. Pequim, para ser mais específica (apesar de algumas modalidades serem disputadas em outras cidades que não a capital chinesa).

Um belo ideal aquele que gira em torno dos Jogos Olímpicos: a confraternização dos povos que, além de buscar a harmonia entre diversos compatriotas com nacionalidades diferentes, ajuda a ativar o patriotismo no coração de cada um. Afinal de contas, sempre acreditamos que os nossos atletas podem, sim, ser os melhores; que a nossa bandeira e o nosso hino são os mais bonitos.

A idéia da fraternidade universal é bela, de fato, mas o que eu acredito que se acende não só nas Olimpíadas, mas também na Copa do Mundo de Futebol, e que mereceria se prolongar para os anos entre esses dois eventos esportivos mundiais é o patriotismo, o verdadeiro amor ao país onde nascemos, crescemos e, se não desistirmos dele, morreremos também.

Sim, tenho que confessar que, por mais que me sinta triste com todos os problemas pelos quais passamos, decepcionada com a falta de espírito público da maior parte - para não incorrer no erro da generalização - de nossos políticos, gestores e quiçá da população "normal", sou uma patriota inveterada.

Um sentimento perene de que os nossos atletas, os nossos cidadãos podem sim ser os melhores, de que o país pode dar certo, de que nossos compatriotas são nossos irmãos; a certeza de que o nosso hino e a nossa bandeira são mesmo os mais bonitos, harmônicos, significativos; tudo isso junto, eu ainda acredito, poderia ajudar a fazer um Brasil melhor.

É, eu ainda me emociono sempre que vejo o pavilhão verde, amarelo, azul e branco sendo hasteado ao som do "Ouviram do Ipiranda as margens plácidas, de um povo heróico o brado retumbante...". Algumas vezes, inclusive, uma ou duas lágrimas teimosas insistem e escorrer pelo rosto desta cidadã.

Penso, até, que algumas aulas de moral e cívica não fariam mal para os jovens que não se importam com o futuro do país e pensam que só podem se dar bem na vida - com trabalho digno e correto - fora do país. Também seriam interessantes para aqueles políticos que talvez até já as tenham tido, mas esqueceram o que significa ter uma pátria há muito tempo e só pensam na nação chamada "meu umbigo".

Sinceramente, não tenho a intenção de buscar nobres sentimentos em cada um, pois talvez nem eu os tenha todos. Mas acho que um pouco mais de amor à terra onde vivemos só faria bem.

Me perdoem os que acham que temos que ser sempre cidadãos do mundo, mas ver o mundo mobilizado em torno de eventos em que cada um, a priori, defende a honra do seu próprio país me faz ficar assim, esperançosa por um Brasil mais solidário consigo mesmo.

Sobre o acompanhamento dos Jogos, como o feito em Atenas 2004, não posso prometer nada. Não mais estou na UnB e nem a Agência Brasil, nem o Obcursos estão em greve. O que indico é o especial da ABr: China 2008.

*As fotos são da Agência Brasil.

04 agosto 2008

Para combater milícias, primeiro a sociedade tem que deixar de ser hipócrita, diz secretário

A matéria não é de hoje, mas vale a pena sempre ser reproduzida. É minha, publicada na Agência Brasil na quarta-feira passada, dia 30.

Em entrevista com o secretário Nacional de Segurança Pública, confesso que virei fã do cara. Pelo menos em princípio. Há tempos não ouvia alguém do governo ser tão incisivo contra a hipocrisia da sociedade, que vê de um jeitinho bem fácil os problemas dos outros, mas não consegue perceber a sua culpa nesses problemas.

Sem mais comentários, prefiro deixar o secretário falar...


A primeira coisa que tem que ser feita no combate às milícias, como as existentes no Rio de Janeiro, é acabar com a hipocrisia das classes mais altas da sociedade brasileira, que condenam a violência somente quando se sentem ameaçadas por ela, disse hoje (30) o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri. Segundo ele, muitos segmerntos sociais apóiam o surgimento dessas organizações, ao criminalizar a pobreza.

“Temos que ser muito francos e contradizer toda hipocrisia social, que neste momento condena as milícias, mas se voltarmos um pouco atrás, veremos que no surgimento elas [milícias] foram aplaudidas. Os justiceiros que vinham para resolver problemas de segurança pública também foram aplaudidas, da mesma forma como todos os grupos de extermínio inicialmente são aplaudidos pelas classes formadoras de opinião”, afirmou ele, em entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Um exemplo que ele trouxe em relação ao comportamento das classes formadoras de opinião no Brasil foi o da morte do garoto de três anos dentro de um carro, no Rio de Janeiro, no início deste mês. “Se, em vez daquela criança, tivéssemos três jovens - homens, pobres, negros, honestos e trabalhadores - provavelmente eles seriam uma estatística a mais e a sociedade inteira aplaudiria dizendo 'menos três bandidos mortos'”.

Balestreri destacou que é moralmente corrompido um grupo que surge se dizendo justiceiro, com o objetivo de exterminar criminosos. De acordo com o secretário, se criminosos decidem sobre a vida e a morte das pessoas de uma comunidade, é natural que eles se achem no direito de tirar dinheiro dessas pessoas.

“Quem é encarregado de tratar o fenômeno da segurança pública são as instituições de Segurança Pública. Quem quer que se apresente para fazer isso em nome da população é bandido, com certeza. Não há nenhuma diferença entre os narcotraficantes e as milícias e esse é o primeiro grande passo: perceber que não há diferença”, disse.

Além de educar a população para não reagir de forma emocional aos problemas de segurança - “para [as pessoas] serem mais racionais na análise que fazem” -, o secretário acrescentou a necessidade de educar também a polícia para que saiba combater esses grupos ainda no seu surgimento.