Páginas

20 outubro 2008

De novo?!

Diz-se que a mídia - não necessariamente ou somente a parte jornalística dela - fala daquilo que o povo quer ouvir (ou ver, ler...). Tenho minhas ressalvas. Reforçadas ainda mais quando somos bombardeados pelo caso da jovem Eloá, sequestrada e morta pelo ex-namorado, sete anos mais velho, em Santo André (SP). Eu nao agüento mais ver isso, por exemplo. As pessoas mais próximas de mim, também não. Alguém sabe como está a Bolsa de Valores? E o dólar?

Não tem como não questionar a validade de uma cobertura tão extensa de um caso que não é único, mas tão somente um do qual se falou, como muitos outros que com certeza acontecem Brasil afora, sem serem sequer notados. É mais um na linha Isabela - aquela que foi (pelo o que se acredita até agora) jogada pela janela do apartamento pelo próprio pai, depois de ser agredida pela madrasta.

Não venham me dizer que a crueldade dos dois casos - capazes de levantar inúmeras discussões seja acerca do trabalho da polícia em situações de sequestro, seja do comportamento dos jovens na sociedade contemporânea, seja sobre o que for - é motivo bastante para justificar uma edição de um Jornal Hoje, para citar só um exemplo, praticamente inteiro - isso mesmo, inteiro (hoje assisti ao programa todo) - sobre o caso da Eloá.

Além disso, somente outras duas mortes. A de uma menina de 16 anos que, suspeita-se, foi morta pelo ex-namorado de 22 anos (macabra coincidência), e a do dono de uma das maiores redes de supermercado do Rio de Janeiro.

Isso depois de um Fantástico recheado de Eloá, seguido por um Mais Você montado com o mesmo conteúdo "jornalístico".

Na época da Isabela Nardoni, me perguntei por que não noticiaram da mesma forma o seqüestro e a morte - igualmente brutais - da Isabela Tainara, aqui de Brasília. Depois do caso Eloá, me lembro também de um caso lá em Maceió, acontecido há anos e que também não virou notícia em cadeia nacional.

Foi o caso do marido da diretora da escola em que eu estudei, o Paulinho. Ele era professor, lecionava na rede municipal de uma cidade do interior das Alagoas, não me recordo agora o nome. Certo dia ele foi achado morto, dentro do seu carro, em uma estrada sem asfalto. Salvo engano, estava amarrado. Mas o que chocou foi o fato de ter sido queimado vivo.

Isso porque "ameaçava" o prefeito porque sabia e denunciava atividades corruptas na administração da merenda escolar. Um crime tão cruel quanto os dois que tomaram a mídia este ano, mas que não chegou a passar os limites da Gazeta de Alagoas, no máximo, TV Pajuçara, na época, afiliada do SBT.

Será que esses crimes chocam mais hoje? Ou é porque envolvem crianças? Talvez seja - é a visão que me parece mais plausível - porque a mídia está mais ávida por audiência, e tragédia sempre dá audiência. Povo masoquista, que gosta de ver a dor dos outros.

Acho que é a hora de olharmos para as tragédias do dia-a-dia. Quem sabe esteja na hora de prestarmos mais atenção nas nossas ruas, cheias de crianças abandonadas, que (só Deus sabe) talvez até sonhem com o dia em que serão levadas desta vida, para parar de sofrer. Isso, sim, é tragédia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo com você.
Ainda bem que você não é dessa mídia sensacionalista e nem vai ser.
Beijos.

Eloy Debus.