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04 fevereiro 2005

Fiz esse texto em agosto, alguns dias após meu aniversário.
É uma historinha até engraçadinha, e fez sucesso no
meu blog, quando publiquei.
Agora, a coloco novamente no blog da Zenker. Enjoy.


Os dez minutos

- Sim, eu fui lá. Mas você não apareceu. Voltei pra casa.
- Eu só me atrasei dez minutos.
- Comigo é assim: ou é na hora, ou não é.
- Mas só foram dez minutos.
- Mas são dez minutos.
- A gente tá brigando por causa de dez minutos?
- Sim, por causa de dez minutos. E você até agora não me deu nenhuma justificativa.
- Justificativa do que? Dos dez minutos?
- Claro.
- Não tem justificativa, uai, eu me atrasei.
- Problema seu, então. Agora arranje outra namorada.
- Então tá, então.
- Então tá. Passar bem.

E ela desligou o telefone. Malditos dez minutos! Mas também... que mulher fresca que eu fui arranjar, hein? Dez minutos. Ela jogou fora dois anos em dez minutos. Fez puf, e acabou. Tá certo que ela nunca se atrasou pra nada, e ela, dessa vez, tinha o direito de estar atrasada, mas essa também foi a primeira vez que eu cheguei tarde. E só foram dez minutos.

Melhor assim. Imagine! Se ela não espera dez minutos, ela esperaria nove meses? E se a gente tivesse três filhos? Três vezes nove dá vinte e sete. O nove é o maior número menor de dez com o qual a gente consegue os maiores números. Nove é grandioso. Três vezes oito dá vinte e quatro, nunca vinte e sete, que é maior que vinte e quatro. Mas é melhor assim. Eu podia ter atrasado somente nove... mas foram dez. Dez é maior que nove, por conseqüência, mais grandioso. Que horas são? 10:10. Dez e dez...

Dez minutos é o tempo de se fazer um lanche em algum lugar e sair correndo para o trabalho. E se eu estivesse trabalhando? Dez minutos também é o tempo que a gente leva esperando o ônibus. Muita coisa pode acontecer em dez minutos. Ela podia ter aproveitado melhor esse tempo. Podia ter ficado olhando pro teto, por exemplo, enquanto eu não chegava. Havia várias pessoas em volta. Qual era o problema de ficar batendo um papo com outra pessoa? Eu juro que não ficava com ciúmes. Ela já podia ir comendo o bolo, também. Afinal de contas, ele estava lá para ser comido. Bolos servem pra isso, pra serem comidos. E ele estava lá, disponível. Bolo por bolo, melhor o comestível. Foi caro pra fazer, mas ele podia ser comido antes. Eu não ficaria irritado, foi a mãe dela que fez. Depois fazia outro. Agora nem mais bolo eu vou comer. Nem sogra vou ter mais. Por causa dos benditos dez minutos que eu me atrasei. Custava ter sentado na escadinha? Custava ter levado uma palavra-cruzada pra fazer? Não, não custava. Naquele vestido gigantesco com certeza cabiam tanto as palavras-cruzadas quanto algumas centenas de canetas. Idiota.

Depois dizem que o mundo é machista. Antes eu até concordava com isso. Depois de hoje, nunca mais. Caramba, elas podem se atrasar duas horas… mas eu não pude demorar nem dez minutos! Nunca mais vou fazer isso na minha vida. Juro: casar, de novo, só com alguém mais tolerante. E que espere o noivo uns dez minutinhos.

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