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24 maio 2011

Saudoso ofício...

Era pra ter escrito ontem, mas nem rolou, então escrevo hoje. É que me bateu uma saudaaaaade de ser repórter! E estava comentando isso com um colega aqui da TV, também editor.

Não, não posso reclamar do meu ofício atual, gosto sim de ser editora! Mas tem coisas que só a o trabalho de reportagem te proporciona. Sentimentos que podem sim aparecer no dia-a-dia, mas que, pelo menos pra mim, são muito mais comuns em reportagens "especiais", por assim dizer.

Conferindo na Agência Brasil o trabalho sobre os ciganos da Daniella Jinkings e do Marcos Chagas, com quem aliás vira e mexe encontro nos corredores do Congresso, me deu saudade das duas coberturas que fiz e das quais mais sinto saudades, por diversos motivos.

A primeira foi a da eleição do Fernando Lugo como presidente do Paraguai, no primeiro semestre de 2008. Não tenho simpatia por ele, como também não tinha por nenhum dos adversários. Mas a sensação, especialmente no final do domingo, quando foi anunciado o resulado prévio, era de estar vendo acontecer a história que daqui a alguns anos vai estar nos livros e descrever isso para quem não estava lá.

É, ainda me emociono quando lembro da festa que aquele povo fez, a esperança de que algo melhor estava por vir (e confesso que não tenho acompanhado o suficiente para dizer se as promessas estão sendo cumpridas, só sei do preço da energia de Itaipú).

Sentir-se parte da história não é algo em que paramos para pensar sempre. E, por mais que todos os dias sejam tomadas decisões importantes, nem sempre os fatos tomam esse tipo de proporção, não no momento em que acontecem. São coisas como a posse do Lula, o primeiro operário, e da Dilma, primeira mulher presidente, que acabam recebendo esse status (por mais que eu não goste deles, admito a importância histórica).

Outra cobertura que até hoje também me emociona é a da situação do Haiti logo depois de quatro furacões em agosto/setembro de 2008. Foi uma viagem de última hora, não era pra eu ir, mas o Alex. Ele não podia, fiquei sabendo na quinta que viajaria no domingo.

O sentimento em relação a essa cobertura é diferente do em relação ao Paraguai. Aqueles quatro furacões foram somente mais um capítulo na história de tragédias daquele povo. Nem dois anos depois, veio o terremoto que matou Zilda Arns, lembram? Mas foi uma experiência única, que muda a forma como a gente olha para os problemas ao redor da gente, sabe?

Não sei se eu mudei minhas atitudes na mesma proporção como mudei a minha forma de ver as coisas, mas não tem como não lembrar da situação deles sempre que acho que tenho problemas demais. Como esquecer a alegria com que, apesar de tudo, aquelas crianças iam para a escola, todas impecavelmente arrumadas, mesmo que saindo de casas no meio da lama. Ou apagar a imagem daquela senhora desesperada porque não conseguiu nem um grão do feijão que estava sendo distribuído pelas tropas da ONU em Gonaïves?

É, eu sinto saudades de ser repórter. O que eu queria mesmo: poder viver de reportagem especial, seja pra TV (por mais que eu não consiga me imaginar no vídeo), pra rádio, jornal, revista ou internet. Talvez seja querer demais. Por enquanto fico com minhas memórias e com o dia-a-dia dos senadores.

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