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26 junho 2005

De calouro a veterano, ou não

Tornar-se um veterano da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília é uma experiência que não encontra paralelos. Quase uma saga, não há dúvidas; desde, é claro, que você queira de fato participar o máximo dessa façanha.
Antes de qualquer coisa, deve-se chegar à Fac com o espírito aberto, pronto para tudo o que possa acontecer, inclusive chegar pontualmente para a aula das oito que foi cancelada, sem que se soubesse. Não ter o primeiro dia de aula não pode, de forma alguma, ser o fim do mundo. É para isso que existem as quintas-feiras da primeira semana de aula: servirem de primeiro dia letivo efetivo.
De forma semelhante não se desespere se não conseguir mais do que os dez créditos obrigatórios. Chorar um pouco nos diversos departamentos da UnB faz parte do treinamento para veteranos. Esse é apenas um dos elementos que justifica a frase ouvida na primeira reunião com a diretoria da faculdade: “bem-vindos ao inferno”. No entanto, não se preocupe. As aulas de Introdução à Comunicação comprovam que o processo de matrícula não é exatamente o inferno, pelo menos quando o professor resolve dizer que sapos mordem... Aulas de OBAV com um funcionário da TV Senado, particularmente as de sexta-feira à tarde, também reforçam essa idéia.
Mas não há nada como uma festa a fantasia para organizar. Essa, diga-se de passagem, é a parte mais marcante do processo entre ser calouro e veterano. São inúmeras reuniões com quorum baixo, discussões que não chegam a lugar nenhum, colegas que insistem em nos puxar para baixo e outros que não desistem de voar alto demais. Como lidar com aqueles que não querem contribuir de forma alguma para a organização do trote? Paciência, muita paciência. Mas pior que esses, só os que sacaneiam, se fazendo de grandes pessoas quando a festa acaba e você vê que deu prejuízo. “Eu disse que isso ia acontecer... vocês não quiseram me ouvir. Agora, bem feito pra vocês.”
E é mais ou menos nesse ritmo que passa o primeiro semestre. Aulas inúteis (pelo menos aparentemente), um filmezinho que você acha que é o seu auge, mas que depois descobre que na verdade ficou uma porcaria, análises do discurso narrativo e muita dor de cabeça por causa do tal trote não violento que uma assembléia, há muito tempo atrás, resolveu instituir.
Final de semestre? “Hora feliz” no Giraffas da 209, afinal, daqui a pouco não seremos mais calouros, merecemos comemorar nosso primeiro semestre de UnB. Sim, reunir os amigos sempre é muito bom, vale realmente a pena pagar um pouco mais por um almoço um tanto quanto melhor e sem as filas enormes do RU.
Nossa alegria fica um bocado abalada com a greve do meio do ano, mas nada que esmoreça nossa amizade. Para os que não viajaram, ócio criativo. Vamos aproveitar Brasília, achar o que fazer, nem que seja rir juntos do azar dos argentinos na final da Copa América contra a seleção brasileira.
A greve acabou? Os calouros já fizeram o registro? Não somos mais calouros!!! Mera ilusão. Um semestre não é o suficiente para que sejamos declarados veteranos da Faculdade de Comunicação Social da Universidade de Brasília. Para que tal coisa aconteça, precisamos sobreviver, ou não, a Teorias da Comunicação, agüentar as aulas com o Senhor do Tempo. Juro para você que suas aulas têm apenas duas horas de duração, não são quatro horas seguidas, sem intervalo comercial.
Se não somos veteranos ainda, somos o quê, então? Calouros tipo B. sim, é uma denominação bem estranha, mas existe e é largamente utilizada nesse pequeno nicho acadêmico. Quem não é calouro do 1º semestre nem veterano, é calouro tipo B, e ponto. Por mais que queiramos às vezes esquecer dessa situação desagradável, um tanto quanto indefinida (semestre da crise de identidade: o que sou? De onde vim? Para onde vou? O que quero da minha vida? Ser comunicólogo ou comunicador? O que é a comunicação, afinal? Ou seria melhor dizer Comunicação?), não adianta, sempre vai haver algum veterano do quarto semestre para nos lembrar da nossa posição no fluxo.
Fotografia é o que nos salva, principalmente se o professor é substituto, estudou na Fac e acabou de assumir a disciplina na UnB, apesar de já ensiná-la na UCB. Mas prepare-se, não é tão fácil assim como pode parecer. Esteja preparado. Se bem que, como diz o poeta, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, mesmo que esse ‘tudo’ inclua zerar a sua conta corrente, ou mesmo ter de pedir mais dinheiro para seus pais a fim de sanar seus compromissos financeiros. Aliás, pedir empréstimo para os amigos também vale!
Chegamos então ao final do segundo semestre pensando que a esta altura já podemos nos auto-declarar veteranos. Na verdade, isso depende. Aliás, tudo nessa vida depende do ponto de vista, certo? Ser calouro ou veterano também. Por mais que nos enxerguemos como veteranos, que os nosso calouros nos vejam assim, ou mesmo que pessoas de outros lugares tenham opinião semelhante, existe um grupo que sempre nos verá como calouros, mesmo que já estejemos às beiras da formatura. Nossos veteranos nunca nos verão como veteranos, mas sempre como eternos calouros. E não pensem que seremos diferentes com os que vierem depois de nós. Afinal de contas, os que ingressarem na Fac depois do 1o semestre de 2004 serão, aos nossos olhos, eternos calouros.

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