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30 agosto 2007

Sobre laranjas e poeira

Laranjas, poeira. Poeira, laranjas. Em princípio, nada a ver com nada. A depender da situação, tudo a ver com tudo. Tudo é relativo e depende do ponto de vista.

Laranjas são, a rigor, frutos das laranjeiras, com um suco muito gostoso, diga-se de passagem. Laranjas também podem ser pessoas que assinam, por exemplo, a compra de um veículo de comunicação no lugar de um parlamentar corrupto - ele mesmo não pode assumir tal aquisição.

Juntamos as duas possibilidades e temos as laranjas que têm a ver com a poeira. Calma, explico.

Se temos laranjas na política, os frutos podem, simbolicamente, fazer parte de um protesto contra - por que não - o presidente do Senado, acusado de usar laranjas - as pessoas - para comprar uma rádio e se não me engano também um jornal.

É aí que elas se juntam à poeira: no tempo seco de Brasília (ai meu nariz que não pára de sangrar...), no gramado do Congresso Nacional, logo depois de colocarem terra vermelha, novinha, sequinha, para quando vier a chuva.

Foi exatamente isso o que aconteceu hoje. Um manifestante solitário queria desenhar uma bandeira nacional com laranjas no gramado. Mas não tinha autorização - sim, precisamos de autorização para protestar. Por isso, ele, já não mais solitário, mas na companhia de jornalistas e policiais.

Os jornalistas foram lá para saber o que estava acontecendo. O de sempre o que? onde? quando? como? por que? quem? do lead jornalístico - lead, chato lead, mas também lead, santo lead.

Os policiais apareceram no exato momento em que o cidadão indignado resolveu abrir uma faixa com "Senado covarde!". Mandaram tirar a faixa, impediram que ela fosse colocada novamente. Não deixavam sequer ele atravessar o lado da rua.

E nesse pode-não-pode, ficamos todos lá, esperando para ver as laranjas e comendo a poeira do gramado.

Passada uma hora, depois que um santo deputado (uau! agora deputados podem ser santos! duvido, hein...), mas enfim... depois que um deputado conhecido do cidadão resolveu vir comprar a briga. Ele tem o direito sim! Mas doutor... ele não tem autorização. Mas eu sempre fiz manifestação sem precisar de autorização escrita. É porque o senhor é parlamentar... quando tem parlamentar, não precisa. Então, se com parlmentar pode, eu fico com ele, agora ele também pode.

Tá ebm, a faixa pode, mas o caminhão com as laranjas não pode descer. Aiaiaiaiaiaiai... enfim, vamos encurtar isso, que lá já estava a Globo, a Radiobrás, a TV Câmara, a TV UOL e mais não sei quem...

Por fim, o caminhão não pôde descer, mas as laranjas, sim. E vieram, saco a saco, os 60 sacos, as cinco mil laranjas. Não cheguei a ver a bandeira, fui embora antes, mas que ela foi montada, ah, foi. Ali, no meio do gramado cheio de terra, entre pés e pernas cobertos de poeira...

Eu não disse que laranjas e poeira são próximas? Agora só falta saber o que vai acontecer com a votação na Comissão de Ética do Senado. Por enquanto, adiada por causa de dois pedidos de vista. Se o voto vai ser aberto ou não? Depende, ninguém tem certeza... a comissão não tem regimento interno.

Enquanto isso, ficamos aqui, chupando laranjas e comendo poeira.

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