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14 fevereiro 2006

Pipoca (parte III, e última)

Não demorou muito para que uma parte do grupo se separasse. A baianinha animadíssima, o pai, numa empolgação incrível, e uma das tias foram adiante. Não dava mesmo para ficarem todos juntos. Mas até que ainda estavam próximos.

A tia, dona da casa, o namorado dela e a prima estavam ainda por ali. Ele também.

Então aquilo que era a pipoca? Gente pulando ao som do axé, corpos suados em toda a volta. Gente que vez em quando girava o braço para o alto, segurando uma latinha de cerveja, refrigerante, Pitu Cola, ou mesmo água e derramando pelo menos metade no povo todo? Gente com lança perfume, ou loló, “viajando”, caindo pelas tabelas. Gente nem aí para ninguém ao lado, simplesmente pulando, dançando e se empurrando para conseguir espaço?

Não era aquilo o que ele esperava. Aos poucos, a excitação por estar saindo na pipoca foi se esvaindo. Os passos que antes estavam no ritmo da música iam aos poucos ficando mais lentos, mas tímidos. A cabeça antes alta, tentando captar tudo ao redor, ia ficando baixa. Lágrima rolavam devagar pelo rosto vermelho de calor. O vermelhão se destacava no rosto branco do gauchinho.

Foi aí que a tia se deu conta de como estava o sobrinho. Tanta gente em volta se divertindo e ele ali, quieto, triste até.

- Que é isso, Thomas? Que é que você tem? Machucou com alguma coisa?

- Ah, tia Ilse... eu não gostei dessa pipoca... – ele disse, chorando.

E eles voltaram. Ele chorando. A tia rindo da situação. E a prima chorando com ele, porque a mãe estava rindo dele. E essa foi a pipoca.

Agora não deu, quem sabe daqui a alguns anos, quando ele estiver mais velho, pronto para curtir e sabendo já como é a tal da pipoca.

(Conto para Oficina Avançada de Narrativas)

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