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20 setembro 2005

Em defesa das minhas escolhas

Não posso negar que a UnB está em greve, que faltam professores, que falta material técnico e melhores condições para as aulas na Fac. Não dá para negar que as universidades públicas têm passado por um processo contínuo de sucateamento, que o ensino públio não é valorizado como deveria e nem recebe as verbas suficientes para manter sua qualidade. Sem condições de refutar a afirmação de que muito dos nossos professores são picaretas, não gostam do que fazem, não se dedicam à docência. Mas muitos alunos também são assim, ou pior...

Apesar de todos os problemas, não me arrependo de ter optado pelo ensino público para minha formação no nível superior. Tenho certeza de que fiz uma boa escolha quando decidi vir para Brasília, estudar jornalismo na UnB. O curso pode não ser uma maravilha, mas eu não esperava nada melhor do que é. Talvez esperasse algo diferente, mais jornalístico mesmo, mas estou feliz estudando Comunicação Social.

Falo tudo isso por um motivo muito simples: voltando hoje para casa, ouvi uma estudante dizer que o curso que ela quer, comunicação, não é bom na UnB. Faça-me o favor, não posso ouvir isso e não dizer nada! Tudo bem, me contive e fiquei calada na hora, mas tenho certeza de que a garota sentada ao meu lado percebeu minha surpresa. Ah, não. Tenha santa paciência. Por mais deficitária que a UnB esteja (a Fac inclusa, lógico), tenho certeza absoluta de que é dali que sai a melhor produção de pensadores.

Digam-me, de que adianta termos um ótimo equipamento fotográfico disponível, um laboratório de informática de última geração para os alunos, câmeras mini DV e película 35mm e ilhas de edição perfeitas? O que forma um bom profissional não é simplesmente o domínio da tecnologia. É o conceito. Saber utilizar os equipamentos necessários é importante, mas não é matéria essencial na formação universitária. Como dizem alguns professores, não estamos na universidade para aprender a utilizar alguns softwares, mas para educar nossa sensibilidade visual, aprender conceitos teorias que nos guiarão em trabalhos e pesquisas futuras, desenvolver nossa criatividade para resolução de problemas relacionados à nossa atividade profissional. Aprender a pensar.

Estar no ensino universitário não é, nem deveria ser, a mesma coisa que estar no segundo grau. Receber tudo pronto? Acho que já está mais do que na hora de decidirmos o que é importante para nossa formação. Ficar preocupado somente com o mercado de trabalho? Isso é importante, pois todos devemos ter condições básicas de sobrevivência, mas, como diz mamãe, os competentes sempre encontram seu lugar ao sol. Estudar somente a técnica? Facilita nossa vida, mas não é a única coisa que nos interessa.

Ok, já falei demais. Vou concluir. Eu posso até não ter professores nacionalmente famosos, mas tenho profissionais competentíssimos, dedicadíssimos, dispostos a ajudar sempre. Isso não só dentre os já formados do quadro docente, mas entre os futuros profissionais também. Essa é a vantagem da escola pública: temos consciência das dificuldades, e isso nos deixa mais solidários, com a mente mais aberta às possibilidades e mais dispostos a lutar para criá-las sempre que necessário.

Tudo bem, eu disse que concluiria. É que o comentário me deixou revoltada mesmo. Mas é isso. E viva a universidade pública! Com todos os seus problemas e suas possibilidades.

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