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28 novembro 2005

Paixão tem prazo de validade (será?)

Pesquisa italiana observa que níveis de determinada proteína diminuem depois de um ano de relação
Claudia Bojunga


A crença dos últimos ro mânticos, de que as intensas paixões podem durar para sempre, não resistiu à frieza acadêmica da ciência. Pesquisadores italianos da Universidade de Pavia concluíram que a emoção tem data de validade: um ano. A partir daí, vai pouco a pouco se esvaindo.

Especialistas acreditam ter descoberto a substância química que faz o amor desabrochar no indivíduo, provocando as célebres sensações de nervosismo, palpitação, euforia e dependência dos inícios de namoro. São as proteínas denominadas neurotrofinas - parentes das endorfinas, responsáveis pelo prazer - que ficam na região cerebral denominada sistema límbico.

- Essa área é uma das mais antigas na evolução e está ligada a preservação das espécies e à atração sexual essencial para a procriação - explica ao JB o neurocirurgião funcional Eduardo Barreto.

Durante o estudo, foram acompanhados 174 homens e mulheres com idades entre 18 e 31 anos. Foram divididos em três grupos: os que estavam começando uma relação, os comprometidos há longo tempo e indivíduos solteiros. Os cientistas compararam a quantidade de proteínas na corrente sanguínea entre eles. Dos 39 participantes que continuavam no mesmo relacionamento há um ano, os níveis da neurotrofina denominada fator de crescimento neural (NGF, sigla em inglês) estavam reduzidos em relação aos índices normais.

Para Barreto, o achado possibilita o desenvolvimento de uma 'pílula do amor', que teria um mecanismo equivalente aos antidepressivos, liberando uma substância que provocaria uma sensação de prazer no cérebro.

Questionado se concorda ou não com a pesquisa o empresário Eduardo Bellizzi, de 27 anos, brinca:

- Não sei, só vou poder responder daqui a um mês, quando completar um ano de namoro.

Mas admite que a sensação de euforia depois de um tempo vai passando, em um processo gradual.

- Tem uma coisa inexplicável que, de um dia para o outro não é mais novidade - comenta. - Mas acho que mesmo assim, quando você ama, vale a pena continuar.

O músico Igor Gazatti, de 28 anos, e a designer Fernanda Lisboa, de 29 anos, discordam inteiramente da pesquisa:

- Esse cientistas não entendem nada - afirma bem-humorado Igor.

Os dois vieram de Recife, onde moram, para o Rio, especialmente para comemorar o aniversário de um ano de casamento, no domingo. Namoraram três anos antes de casar e pretendem continuar juntos por muito tempo.

- Acho que depende do casal de fazer um esforço, ter um cuidado para manter a relação - opina Fernanda.

Mas reconhecem que existem momentos de rotina:

- Tem as coisas chatas do outro que às vezes irritam, mas a gente vai tentando deixá-las de lado - observa a designer.

Para os já desesperançados, um dos coordenadores do estudo Pierluigi Politi, ameniza explicando que a descoberta não significa que as pessoas deixam de estar apaixonadas, apenas que não sentem mais um ''amor agudo''.

Eliana, de 73 anos, casada há dez com Ronald, da mesma idade, omite o sobrenome, por razões do coração. Mas ambos concordam com o especialista.

- A paixão de um hora para outra pode desaparecer e o casal vive muito um em função do outro, é um sentimento muito mais egoísta. O amor tem mais cumplicidade e amizade - comenta. De mãos dadas com a mulher Ronald considera:

- Concordo com tudo que ela falou - brinca.

- O sentimento se torna mais estável - observa Politi, reconhecendo que o conhecimento da ciência sobre a paixão ainda é limitado.

(JB Online - Ciência - 28/11/2005 - www.jbonline.terra.com.br)

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